O relógio nem tinha despertado e eu já me preparava para a pedalada de Véspera de Natal com saída marcada para as seis da manhã. A noite ainda predominava e a chuva era iminente, mesmo assim, apesar de alguns bocejos da turma, encaramos o trajeto planejado.
Lá pelo 16º quilômetro ela começou, de mansinho, como quem não quer nada, mas estava lá, constante, molhando as carcaças já suadas. Não titubeamos e valeu! O Monte Belo mais uma vez mostrou sua beleza. Desafiou-nos com trilhas que carro nenhum enfrentaria.
No alto do Monte Belo
A vitória foi chegar ao cume. Lá, apenas ruínas do que um
dia deve ter sido uma rampa de saltos. A trilha para chegar até lá,
completamente abandonada. Isso só fez aumentar a adrenalina.
E a descida, bom, essa foi um capítulo a parte! Custaram-nos
muitos tombos, duas câmeras de ar e uma suspensão, além de boas risadas. As
fotos e os vídeos dessa vez não dizem o que foi descer o Monte Belo pelas
trilhas fechadas e íngremes, paralelas às vias de acesso normais.
No próximo ano voltaremos lá, com tempo aberto, certamente
será um espetáculo!
Agora com o grupo reforçado pela volta do “guia” Alex, recuperado
de lesão, e com a presença do ciclista da “Santa Ciclismo” de Santa Cruz do
Sul, Lúcio; eu (André), Felippe e Volnei encaramos um super desafio. “Escalamos” a estrada até Linha Deodoro (RS
422), interior de Venâncio Aires.
Escalamos sim. A partir do campo do Palmeiras, próximo da
Madeireira, até o topo em Linha Deodoro, são 10 quilômetros de subida pelas
encostas dos morros, sem trégua, nem dó!
Obviamente que eu ficava para trás. Meus colegas
ciclistas estão anos na frente em preparação e experiência em subidas. Honestamente,
odeio subidas. A única coisa boa da subida é chegar ao topo. Aprendi que cada
ciclista tem seu “tempo”. O momento de dizer: “diminui, para, se hidrata”.
Paramos para recarregar as energias no Santuário de Nossa
Senhora de Lourdes. Uma fonte de água natural e geladinha que reativou nosso
ânimo para encararmos o que vinha por frente.
Fonte salvadora.
Chegando ao topo, em Linha Deodoro, nosso objetivo era o
de encarar três trilhas diferentes, sendo duas que levavam até cachoeiras locais
e uma até a famosa figueira centenária.
Após um litrão de refri patrocinado pelo amigo Lúcio e da
despedida do Felippe do novo amigo que ele fez (um cachorro que saltitava por
ali), descemos a trilha até a localidade de Cachoeira Baixa, onde fica a
cachoeira Véu de Noiva.
Felippe fez uma nova amizade.
Lugar espetacular! Começando pela trilha: fechada, pela
encosta do morro, com muito cascalho e curvas acentuadas. Segundo o Felippe com
quatro quilômetros. Muita adrenalina.
Depois entramos em outra trilha com espaço para apenas uma
bicicleta por vez. Essa que nos levou ao Véu de Noiva. Todo o esforço,
inclusive o que estava por vir, como, por exemplo: carregar a bicicleta os 4 km
lomba acima até a 422, foi recompensado pela beleza da cachoeira.
Apesar de pouca água, devido à estiagem, o banho foi
inevitável. Deixamos as bikes no topo da cachoeira e encaramos a encosta até a piscina
natural, lá embaixo. Muito legal. As fotos dão uma noção do que é estar lá. Se
você tiver a oportunidade de ir, não se arrependerá.
Saímos às 14:30 de Venâncio, o sol estava de arrebentar,
enfrentamos 10 km de subida na 422 e mais 4 no retorno da trilha. Ainda
arrebentou a correia da bike do Volnei, que nos tirou muito tempo. Decidimos
deixar a figueira e a outra trilha de cachoeira para uma próxima oportunidade.
Arrumamos a correia da bike e descemos os 10 km
sem nenhuma pedalada. Muito show! Até a próxima.
Nos pedais eu (André) e Volnei. Os demais “arregaram”. Pedal
trilheiro que prese, pedala até enjoado do estômago. A bike faz o cara melhorar
na marra!
Nos embrenhamos (me
nego a escrever “embrenhamos-nos”) no interior de Venâncio Aires. O
objetivo principal foi de passar por Linha Terezinha. Saímos às 17h de sábado
(03). Saindo da Ciclovia entramos à esquerda em direção a “Linha 17 de Junho”.
Pouco antes de começar o paralelepípedo pegamos à direita. Não me pergunte pra
onde, estávamos seguindo o Google. Sei que chegamos a Santa Emília. A
localidade está bem cuidada, com asfalto e tudo o mais. Aproveitamos para uma
acelerada básica.
Seguimos o trajeto atravessando uma ascensão de uns 250
metros, seguido de uma descida radical que trouxe lindas paisagens. O interior
do município é realmente muito bonito, com propriedades bem cuidadas e estradas
que, apesar do cascalho solto, estão em ótimo estado de conservação.
O mais legal de tudo são as pontes e o que passa por baixo
delas, a água. Confesso que vejo esses riachos e córregos e já fico com vontade
de ir lá e molhar o esqueleto. Herança do velho Taquari, rio onde passei minha
infância e boa parte da adolescência me banhando.
Pontes não faltaram, uma em Linha Terezinha e mais duas ao
longo do trajeto que corta o mesmo riacho, que não sei o nome. A “Ponte de
Ferro”, chamada assim pelo Volnei, merece destaque, pois dela consegui, com
certo esforço, chegar até a água e tirar o suor e a poeira do corpo. O Volnei
preferiu ficar lá encima dando umas cuspidas para ver se o mesmo demorava para
chegar ao chão. Talvez fazendo uma espécie de medição. Sei lá. Fique claro que
enquanto estava na água ele não deu nenhuma cuspida, que eu visse.
Seguimos. Ao entardecer chegamos à cidade de Mato Leitão,
onde finalizamos a pedalada pela RS 453 até Venâncio.